editor de UOL Cinema
Raoni Maddalena/Divulgação
Peter Greenaway em São Paulo
* LeiaBLOG DO VIDEOBRASIL
Para o multiartista britânico Peter Greenaway, o cinema morreu -- e já faz algum tempo. Segundo ele, o que Hollywood faz hoje é produzir em série histórias previsíveis. O cinema realmente importante para o público deixou de existir. "Os fimes narrativos já não despertam interesse", diz Greenaway. "Na Holanda, onde eu moro, as pessoas vão em média ao cinema uma vez a cada dois anos."
Greenaway, ironicamente, está no Brasil para, entre outras coisas, viabilizar a produção de um filme que ele pretende rodar em São Paulo. Além disso, veio acertar detalhes da performance que vai comandar como VJ para o festival de arte eletrônica Videobrasil, em setembro. Será um desdobramento de um projeto que o mobiliza há mais de dez anos e para o qual ele realizou, entre 2002 e 2003, um filme de sete horas de duração. Tudo gira em torno de 92 malas cheias de vestígios de uma história que atravessa décadas. As malas teriam sido deixadas por um certo Tulse Luper, escritor desaparecido em 1989.
O personagem vem sendo tratado como um mistério, mas Greenaway não faz segredo sobre sua identidade. "Sou eu", diz ele. "Eu nasci em 1942, três anos antes da bomba de Hiroshima. Tenho mais ou menos a idade de John Lennon e Mick Jagger. Esse foi o início de uma época que terminou em 1989, com a queda do Muro de Berlim." Greenaway descreve esse período como uma fase de grande otimismo, principalmente em relação à tecnologia. É uma época que ele também chama de "era do urânio", em
referência ao papel-chave exercido ao longo desse tempo pela energia nuclear.
Greenaway localiza o início da morte do cinema um pouco antes do encerramento dessa fase: o lançamento, em 1983, do controle remoto sem fio que operava tanto a televisão quanto o videocassete. O zapping trouxe para os lares a possibilidade de interação e a passividade do cinema caiu em desgraça. "Não há mais por que juntar um monte de gente numa sala escura em que só há um lugar bom para ver o filme, a poltrona equidistante das caixas de som que permite ver a tela bem no centro", diz Greenaway, que vem operando com vídeo de alta definição há vários anos. "Já existe tecnologia para envolver o espectador em som e imagem por todos os lados e fazer dele um agente da ação."
O ambiente virtual e tridimensional do site Second Life é a prova de que o futuro já chegou e que as crianças e jovens de hoje em dia já vivem numa época pós-cinematográfica. Greenaway prentende explorar essas possibilidades em sua performance no Videobrasil, na qual vai mixar, editar e reeditar imagens de seus filmes da série Tulse Luper com música ao vivo, num "live act" que, ele espera, levará o público a dançar. Para isso ele usará equipamentos com touch screen, pelos quais é possível projetar e misturar imagens em grande escala com o toque dos dedos sobre uma tela de monitor.
Greenaway se tornou conhecido mundialmente pelos filmes que realizou em suporte e formato mais ou menos tradicionais entre as décadas de 80 e 90, como "O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante" e "O Livro de Cabeceira". Esses títulos alimentaram no autor uma frustração com os limites do cinema que o levou às experimentações dos últimos anos.
Perguntado se o novo cinema "ao vivo" que ele persegue com tecnologia eletrônica se aproxima do teatro, ele diz que é a pintura sua fonte de inspiração. "Eu acredito que os pintores Caravaggio, Velásquez e Rembrandt foram os inventores do cinema, três séculos antes dos irmãos Lumière", diz Greenaway. "Está ali a dramaticidade e o jogo de luz e sombra que fizeram a grandeza do cinema narrativo nos anos 30 e 40. E é esse aspecto sensorial que o espectador absorve, muito mais do que a estrutura romanesca."
Rembrandt é o inspirador do próximo filme de Greenaway, cujo título é o mesmo da obra mais célebre do pintor holandês, "A Ronda Noturna". O cineasta quis levar para as imagens em movimento sua convivência intensa com o quadro, que está exposto do outro lado da rua onde ele mora em Amsterdã. "A Ronda Noturna" estréia no Festival de Veneza, no fim de agosto.
Sobre o filme que pretende realizar em São Paulo, ele adianta que tratará de erotismo ou pornografia e que escolheu o Brasil para filmá-lo porque se sente fascinado pelo que qualifica de tensão entre a cultura católica e a liberdade de costumes.
Raoni Maddalena/Divulgação
Peter Greenaway em São Paulo
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Para o multiartista britânico Peter Greenaway, o cinema morreu -- e já faz algum tempo. Segundo ele, o que Hollywood faz hoje é produzir em série histórias previsíveis. O cinema realmente importante para o público deixou de existir. "Os fimes narrativos já não despertam interesse", diz Greenaway. "Na Holanda, onde eu moro, as pessoas vão em média ao cinema uma vez a cada dois anos."
Greenaway, ironicamente, está no Brasil para, entre outras coisas, viabilizar a produção de um filme que ele pretende rodar em São Paulo. Além disso, veio acertar detalhes da performance que vai comandar como VJ para o festival de arte eletrônica Videobrasil, em setembro. Será um desdobramento de um projeto que o mobiliza há mais de dez anos e para o qual ele realizou, entre 2002 e 2003, um filme de sete horas de duração. Tudo gira em torno de 92 malas cheias de vestígios de uma história que atravessa décadas. As malas teriam sido deixadas por um certo Tulse Luper, escritor desaparecido em 1989.
O personagem vem sendo tratado como um mistério, mas Greenaway não faz segredo sobre sua identidade. "Sou eu", diz ele. "Eu nasci em 1942, três anos antes da bomba de Hiroshima. Tenho mais ou menos a idade de John Lennon e Mick Jagger. Esse foi o início de uma época que terminou em 1989, com a queda do Muro de Berlim." Greenaway descreve esse período como uma fase de grande otimismo, principalmente em relação à tecnologia. É uma época que ele também chama de "era do urânio", em
referência ao papel-chave exercido ao longo desse tempo pela energia nuclear.
Greenaway localiza o início da morte do cinema um pouco antes do encerramento dessa fase: o lançamento, em 1983, do controle remoto sem fio que operava tanto a televisão quanto o videocassete. O zapping trouxe para os lares a possibilidade de interação e a passividade do cinema caiu em desgraça. "Não há mais por que juntar um monte de gente numa sala escura em que só há um lugar bom para ver o filme, a poltrona equidistante das caixas de som que permite ver a tela bem no centro", diz Greenaway, que vem operando com vídeo de alta definição há vários anos. "Já existe tecnologia para envolver o espectador em som e imagem por todos os lados e fazer dele um agente da ação."
O ambiente virtual e tridimensional do site Second Life é a prova de que o futuro já chegou e que as crianças e jovens de hoje em dia já vivem numa época pós-cinematográfica. Greenaway prentende explorar essas possibilidades em sua performance no Videobrasil, na qual vai mixar, editar e reeditar imagens de seus filmes da série Tulse Luper com música ao vivo, num "live act" que, ele espera, levará o público a dançar. Para isso ele usará equipamentos com touch screen, pelos quais é possível projetar e misturar imagens em grande escala com o toque dos dedos sobre uma tela de monitor.
Greenaway se tornou conhecido mundialmente pelos filmes que realizou em suporte e formato mais ou menos tradicionais entre as décadas de 80 e 90, como "O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante" e "O Livro de Cabeceira". Esses títulos alimentaram no autor uma frustração com os limites do cinema que o levou às experimentações dos últimos anos.
Perguntado se o novo cinema "ao vivo" que ele persegue com tecnologia eletrônica se aproxima do teatro, ele diz que é a pintura sua fonte de inspiração. "Eu acredito que os pintores Caravaggio, Velásquez e Rembrandt foram os inventores do cinema, três séculos antes dos irmãos Lumière", diz Greenaway. "Está ali a dramaticidade e o jogo de luz e sombra que fizeram a grandeza do cinema narrativo nos anos 30 e 40. E é esse aspecto sensorial que o espectador absorve, muito mais do que a estrutura romanesca."
Rembrandt é o inspirador do próximo filme de Greenaway, cujo título é o mesmo da obra mais célebre do pintor holandês, "A Ronda Noturna". O cineasta quis levar para as imagens em movimento sua convivência intensa com o quadro, que está exposto do outro lado da rua onde ele mora em Amsterdã. "A Ronda Noturna" estréia no Festival de Veneza, no fim de agosto.
Sobre o filme que pretende realizar em São Paulo, ele adianta que tratará de erotismo ou pornografia e que escolheu o Brasil para filmá-lo porque se sente fascinado pelo que qualifica de tensão entre a cultura católica e a liberdade de costumes.
3 comentários:
Esse campo sensorial q Greenaway busca é fascinante. Sua arte é de transformação, por isso vê o cinema morto. O cinema está sendo vendido em cada shopping como mercadoria daquela alta produtividade, um mero entretenimento para aceitação da realidade. Fazer as pessoas SENTIR talvez seja a função do cinema que não se propaga na publicidade exarcebada. Fazê-las sentir para perceber que não há preço para a sinestesia, ela não vem embalada...
Esse cinema artístico (por mais auras que não tenha) é transformador do indivíduo.
Greenaway!Greenaway!Greenaway!
esse greenaway além de hipocrita (pois ele diz que o cinema morreu e faz exatamente um tipo de cinema que critica) é mentiroso (é verdade que as pessoas na Holanda vão ao cinema a cada dois anos? So se for na rua dele).
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