segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Mostra Paulo Emilio: Uma Homenagem



17 a 28 de setembro no CINUSP

Paulo Emilio Salles Gomes (1916-1977) foi escritor, crítico e professor de cinema da Universidade de São Paulo. Fundou o Clube de Cinema da Faculdade de Filosofia da USP nos anos 40, foi o responsável pela direção da filmoteca do MASP (que depois se transformaria na Cinemateca Brasileira) e organizou o primeiro curso de cinema no Brasil, em 1965, na Universidade de Brasília. Considerado um divisor de águas do pensamento cinematográfico no Brasil, Paulo Emilio configura-se como uma fundamental referência para a reflexão crítica da produção audiovisual brasileira.

Sabemos que, quando se torna muito técnica e específica, a crítica de arte corre o risco de apagar a riqueza da experiência artística, desvinculando-a da vida. Na crítica cinematográfica não devemos nos ater somente à técnica pela técnica, sem nos questionarmos como essa também se insere em um universo maior, ou seja, como ela se relaciona com a cultura, com a criatividade artística, e em última instância, com a própria vida. É justamente nessa forma de análise que se destaca Paulo Emilio. Suas críticas possuem um caráter subjetivo essencial e, de maneira muito fluída, envolvem todo o seu universo cultural, deixando vir à tona os próprios sentimentos que o cinema lhe proporciona.


É com o objetivo de reviver a crítica de Paulo Emilio, tão importante à história do cinema nacional, que a mostra “Paulo Emilio: Uma Homenagem” se faz pertinente neste ano em que se relembram os 30 anos de seu falecimento. Revisitar a sua crítica é, antes de tudo, reviver pontos altos da história do cinema através de um olhar profundo e sensível.



Sinopses e Trechos das Críticas de Paulo Emílio Salles Gomes


Paulo Emílio (Brasil - 1981) Dir. Ricardo Dias 1

Duração: 20 min. 35mm

Documentário de curta-metragem sobre Paulo Emílio, o filme evoca o contato do professor de Cinema Brasileiro com seus alunos e reconstitui situações de aula.

Tesouro Perdido (Brasil - 1927). Dir. Humberto Mauro.

Duração: 56 min. 16mm

Sinopse: É um filme mudo sobre os desencontros de dois irmãos criados órfãos de pai. Ao completarem a maioridade, cada um recebe a metade de um mapa de tesouro.

“A barreira de degradação fotográfica, que habitualmente se antepõe entre O Thesouro Perdido e o espectador atual, é aqui vencida pelo frescor das imagens que exprimem, além da natureza, algo de muito profundo em Humberto Mauro, um elemento muito preciso de sua personalidade que só bem mais tarde será dado conhecer melhor.” [...]

“A única coisa imperdoável de O Thesouro Perdido é o enredo.[...] O tesouro de O Thesouro Perdido parece imposto de fora com a intenção de dar importância e dramaticidade ao dia-a-dia trivial de uma humanidade comum, O conflito é importado de longe como se no ambiente bucólico para onde é transplantado não houvesse condições para a eclosão de qualquer luta: não é por acaso que em O Thesouro Perdido o tesouro acaba por ser rejeitado em benefício da permanência de valores extremamente convencionais mas artisticamente coerentes.” (EMILIO, P. Humberto Mauro, p.145 e p. 160, Cataguases, Cinearte. São Paulo, Perscpectiva, 1974)

Oharu – A Vida de uma Cortesã (Japão – 1952). Dir. Kenji Mizoguchi

Duração: 148 min. 16mm

Sinopse: Conta a história de Oharu, uma mulher que na sua juventude fazia parte da corte do Imperador, porém, por envolver-se com um homem de condições inferiores, sua vida muda, terminando como pedinte e cortesã.

“Só conheço bem um filme de Kenji mizoguchi, A Vida de O’Haru, mulher galante, e apesar de não o rever há cinco anos, não empalideceu a lembrança de seu esplendor plástico em branco e preto. Teoricamente é uma obra que teria muito contra si. Seu roteiro é constituído por uma meia dúzia de episódios bastante autônomos, tirados de um autor do século XVII, Ihara Saikaku. Além desse desafio à unidade, a história concentra na personagem principal, a mulher galante, um excesso de desgraças com intensidade excessiva e gosto duvidoso. Mas todos os defeitos potenciais de construção ou concepção são eclipsados pela qualidade intrínseca das imagens, por sua beleza de todos os instantes. A técnica de Mizoguchi consiste em conservar a câmera fixa por bastante tempo e fazer tomadas as mais longas possíveis, afim de dar o máximo de oportunidade aos meios de percepção do espectador. ‘Um filme’, declarou Mizoguchi, ‘deve ser outra coisa além da simples expressão psicológica’. Em última análise ele procura dar ao cinema os famosos ‘valores tácteis’, que Berenson considera a maior virtude da pintura.” (EMILIO, P. Crítica de Cinema no Suplemento Literário, pp.180-81, Rio de Janeiro, Paz e Terra/ Embrafilme, 1982. 2vols.)


O Portal do Inferno. (Japão – 1953). Dir. S. Kinogasa

Duração: 89 min. 16mm

Sinopse: Na era Heian (794-1185), em meio à disputa entre inimigos do imperador e seus defensores, um samurai insiste em conquistar uma mulher casada.

“Ele [Kinugasa] não acredita na sincronização do som e da imagem. Essa deveria ser tratada como no cinema mudo, sendo função do som inculcar-lhe poesia e sentimento. O ideal de Kinugasa é realizar um dia um filme que seria a história de um homem vivendo à beira de um rio, cuja vida seria contada unicamente pelos temas dos sons. Essa idéia situa bem as preferências estéticas do realizador. Um filme deve ser uma variação de detalhes da natureza, de luzes, de sons, uma espécie de fuga de sensações em torno de um tema que em si mesmo não teria maior importância. Se Kinugasa nunca pode alcançar plenamente esses objetivos, por motivos comerciais evidentes, ele procura sempre deles aproximar-se. O rigoroso classicismo de A Porta do Inferno, que provocou tanta admiração no Ocidente e desconcertou o público japonês, foi até hoje a expressão máxima de fidelidade de Kinugasa a seus princípios estéticos.” (EMILIO, P. Crítica de Cinema no Suplemento Literário, v.1, p. 182, Rio de Janeiro, Paz e Terra/ Embrafilme, 1982. 2vols.)

Noites de Cabíria (Itália – 1967) Dir. Federico Fellini

Duração: 110 min. 35mm

Sinopse: Esta obra de Fellini conta a história de Cabíria, uma prostituta de Roma que sonha em se casar e deixar a vida que leva, mas é obrigada a viver na marginalidade.

“Basicamente, o método do Fellini maduro e criador não é diferente do seu comportamento durante a irresponsável vagabundagem da juventude em Rimini. Num caso como no outro, ele solicita confusamente ao acaso esses momentos de aderência entre a fantasia e o concreto que são o ponto de partida de sua elaboração artística, isto é, de seu esforço pungente em dar forma e comunicação ao mundo dos valores espirituais e paramísticos que agitam o seu espírito.”

“Na realidade, a graça consiste na descoberta dentro de si próprio daquilo que permaneceu inato no meio das erosões provocadas pelo ato de viver e nada indica que as cerimônias religiosas sejam particularmente favoráveis à sua eclosão. Cabíria é fundamentalmente pura e não é numa romaria religiosa que a graça se manifesta mas no palco de um teatro de última classe, sob a ação de um mágico, diabo envelhecido e decadente. Essa seqüência é talvez a mais extraordinária de toda a obra felliniana.” (EMILIO, P. Crítica de Cinema no Suplemento Literário, v.1, p.436 e p.441, Rio de Janeiro, Paz e Terra/ Embrafilme, 1982. 2vols.)

De Crápula a Herói (Itália - 1959) Dir. Roberto Rossellini

Duração: 126min. DVD

Sinopse: Durante a Segunda Guerra, um general impostor aproveita-se de seus compatriotas prometendo-lhes interceder a favor de seus familiares capturados por alemães. Quando sua farsa é descoberta o general é preso, porém, para se livrar da pena, aceita colaborar com a Gestapo.

“Il generale della Rovere [De crápula a Heró] persegue deliberadamente um triunfo de bilheteria. Mas nada disso impede que à luz das preocupações mais íntimas de Rossellini a sua última fita exprima o prolongamento harmonioso de uma meditação presente em toda sua obra. Minhas referências apóiam-se naturalmente nos filmes que conheço melhor, Paisà, Fracesco, L’amore e Europa 51, e em todos eles palpita a busca ansiosa de uma verdade de vida, de uma autenticidade moral. Em Il generale della Rovere a natureza da reflexão continua a mesma, porém desta vez através de algumas minuciosas descrições do funcionamento da mentira.”

“A mentira tem má reputação, mas é uma grande desconhecida. Um dos méritos de Il generale della Rovere é propor tarefas nesse terreno para as imaginações críticas. Crápula ou herói, a base do comportamento do principal personagem da fita é sempre a mentira. A prática do bem e do mal tem em comum um suporte de ficção.” [...]

“Acredito que uma reflexão metódica com ponto de partida em ilustrações fornecidas pelo filme poderia conduzir a uma avaliação mais justa do papel da mentira na constituição de uma realidade civilizada. São tantas as ocasiões em que a única forma de comunicação entre os seres é o exercício da mentira, seu papel como estofo, cimento e válvula é tão eminente que se torna impossível imaginar o mundo sem sua presença harmonizadora. Não há conflitos entre a mentira e a verdade. Elas são complementares e nada se acorda tão bem com a serena mentira como doses mitigadas de seu contrário.” (EMILIO, P. Crítica de Cinema no Suplemento Literário, v.2, pp.241-42, Rio de Janeiro, Paz e Terra/ Embrafilme, 1982. 2vols.)

P. E. Salles Gomes (Brasil - 1979) Dir. David E. Neves

Duração: 35 min. 16mm

Feito para a televisão educativa, este documentário apresenta trechos de filmes nacionais e estrangeiros e os ilustra com comentários do crítico Paulo Emílio. Contém ainda depoimentos de Décio de Almeida Prado, Antonio Candido, Jean-Claude Bernadet e outros.

O Grande Ditador (Estados Unidos - 1940) Dir. Charles Chaplin

Duração: 124 min. 35mm

Sinopse: Primeiro filme falado de Chaplin, nele Carlitos vive dois personagens: o ditador Adenoid Hynkel (numa referência óbvia a Hitler) e um barbeiro judeu, que acidentalmente é confundido com o chefe de Estado.

“A personagem de Chaplin na tela sofreu variações profundas com o decorrer do tempo. Os freqüentadores de retrospectivas se surpreendem, às vezes, em conhecer um Carlitos violento, mau e vulgar. [...] Ele afirma e impõe seus desejos e caprichos. Apesar das aparências, o Carlitos do futuro guardará muito desses traços, particularmente uma constante rebeldia potencial contra as convenções e pressões do mundo exterior. No Carlitos clássico, a vontade de poder se dilui numa aparente submissão e a crueldade se esconde atrás de uma covardia calculada. [...] Mas a crítica, André Bazin em primeiro lugar, reconhece facilmente a presença dos dois Carlitos, dissociados, em O Grande Ditador. E os empreendimentos macabros de Verdoux evocam, apesar da impecável elegância, a distante fúria do Carlitos dos primeiros tempos.” (EMILIO, P. Crítica de Cinema no Suplemento Literário, v.1, p.212, Rio de Janeiro, Paz e Terra/ Embrafilme, 1982. 2vols.)

A Regra do Jogo (França – 1939) Dir. Jean Renoir

Duração: 110 min. DVD

Sinopse: Um influente parisiense promove uma festa em sua casa de campo. Alheia aos problemas do mundo, a rotina da burguesia francesa será mudada de repente.

“La régle du jeu [A Regra do Jogo], a última fita francesa [de Renoir] antes da partida para os Estados Unidos, fora distribuída algumas semanas antes do início da guerra, diante da mais total incompreensão da crítica e do público, no qual se incluía o autor deste artigo. Durante os anos da guerra conservei na memória apenas a seqüência, aliás extraordinária, de uma caçada. Faço essa confissão com certa vergonha, pois hoje La régle du jeu é para mim (e para muitos) não só a obra-prima de Renoir, mas o melhor filme francês e um dos melhores do mundo.”

“Com efeito, os primeiro críticos da fita, levados pelas idéias convencionais que haviam estabelecido em relação a Renoir, limitaram-se a ver em La régle du jeu uma sátira ao comportamento humano da classe dirigente francesa. Não há dúvida de que a regra do jogo é a mentira, é a hipocrisia necessária para o equilíbrio das relações entre membros de uma burguesia aristocratizada e alienada pelo lazer, e que a não observância da regra conduz a catástrofes. Mas esse é um lado do díptico, a metade da fita. Na outra, desenvolvida paralelamente e de igual importância, os personagens são os empregados cujo estatuto popular não impede que fiquem presos, tanto quanto os patrões, ao mecanismo impiedoso e desumanizador da regra. Os ecos sociais da fita são amortecidos por um pessimismo global e profundo em relação à natureza humana. Diferentemente, porém, de Stroheim, um dos seus mestres, Renoir tem simpatia por todos os personagens, suas falhas, hipocrisias e ridículos. [...] Renoir acumplicia-se com as razões de cada um, não julga individualmente ninguém, mas é ao mesmo tempo implacável com todos.” (EMILIO, P. Crítica de Cinema no Suplemento Literário, v.1, p.332 e p.335, Rio de Janeiro, Paz e Terra/ Embrafilme, 1982. 2vols.)

A Linha Geral (União Soviética – 1928) Dir. Sergei M. Eisenstein

Duração: 96 min. DVD

Sinopse: Com o aparecimento da camponesa Marta, destacando-se na liderança sobre a massa, o filme dá uma reviravolta, embora o filme gire em torno da coletivização de uma aldeia de camponeses.

“A intenção consciente de Eisenstein era fazer ateísmo, porém o gosto pelas formas, o ritmo singular, com algo de dignidade e do esplendor de um cerimonial religioso, obtido pela montagem, e provavelmente sua fascinação latente pelo fenômeno do misticismo, dão à cena uma amplidão e uma ressonância que escapam certamente aos objetivos originalmente procurados. Acaba-se com a impressão curiosa de que, excetuando o padre, que é tratado de maneira irônica, todos – autor e personagens – comungam no êxtase.”

“A cena mais célebre do filme, a estréia da desnatadeira de leite, tem também alguma coisa de religiosa e ao mesmo tempo de erótica. Na União Soviética encorajava-se a dignificação artística dos objetos prosaicos portadores de progresso, mas Eisenstein foi além, tentando de certa forma dar uma aura sacra à batedeira mecânica de leite. Ele escreveria mais tarde: ‘Não é o Santo Graal que inspira a dúvida e o êxtase, mas uma desnatadeira.’” (EMILIO, P. Crítica de Cinema no Suplemento Literário, v.1, p.225 e p.256, Rio de Janeiro, Paz e Terra/ Embrafilme, 1982. 2vols.)

Nascimento de Uma Nação. (Estados Unidos - 1915) Dir. D. W. Griffith

Duração: 187 min. DVD

Sinopse: Durante a Guerra Civil americana, o filme conta a saga de duas famílias, uma do norte e uma do sul. Obra considerada polêmica por seu conteúdo racista, já que coloca a Klu Klux Klan como importante no papel de insurreição do “estilo de vida” do sul após perder a guerra.

“Se considerarmos o cinema simultaneamente em seus diversos aspectos, como linguagem, arte, indústria e expressão social, Griffith é incontestavelmente a mais poderosa personalidade de toda a sua história. Ele foi o principal artesão das normas básicas do novo meio de expressão e o primeiro a utilizá-las com fluência e de forma coerente; entre seus filmes [...]; foi Nascimento de Uma Nação que despertou o interesse da alta finança pela nova indústria e a tomada de consciência pelas elites políticas e religiosas da América do poder do cinema em suscitar emoções e modelar a opinião.”

“Penso que a situação é clara. Como algumas de suas declarações o demonstram, Griffith reconhecia o valor artístico do filme, mas para ele pessoalmente o cinema era como uma das invenções miraculosas com que sonhara na juventude, capazes de enriquecer rapidamente um homem e dar-lhe em seguida tranqüilidade para realizar seu destino artístico.”

“Griffith só compreendeu seu destino quando este estava fundamentalmente realizado, isto é, por ocasião do lançamento de Nascimento de Uma Nação. Em última análise, a obra teve para o seu autor um papel semelhante ao que exerceu frente aos contemporâneos: revelar a grandeza do cinema.” (EMILIO, P. Crítica de Cinema no Suplemento Literário, v.1, p.361 e p. 365, Rio de Janeiro, Paz e Terra/ Embrafilme, 1982. 2vols.)





segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Basic Jazz












Mais um programa especial. Depois de um longo período de ausência, resolvi fazer um set só de pedradas jazzísticas com grandes clássicos da música norte-americana. Ressaltando que não houve uma intenção em delimitar estilos, seguir o desenvolvimento cronologicamente de forma linear, a única preocupação foi selecionar grandes instrumentistas e orquestras em seus períodos mais profícuos, mais nada.

Assim, começo com a mais pesada de todas as Big Bands, Count Basie e seus companheiros de várias noitadas em Kansas City, vale lembrar que uma das maiores lendas do jazz, Lester Young foi o sax tenor de Basie, refererência absoluta de dez entre dez saxofonistas de jazz, de Charlie Parker à Sonny Rollins e Coltrane, vale à pena notar o vigor dos seus solos arrasadores e sempre bem acompanhados por Basie. Para quem quiser se aprofundar mais, indico o filme de Robert Altman, Kansas City, onde vocês poderão acompanhar as noites conturbadas e quentes da cidade em questão, a trilha sonora do filme fica por conta de Count Basie Orchestra ( interpretada por excelentes músicos )que toca às noites todas no club subterrãneo da cidade. O filme trás ainda um duelo insano entre Lester Young e Coleman Hawkins, - a outra grande referência dos saxofonistas de jazz -, confronto este assistido por ninguém menos que um menino, cujo sobrenome é Parker e que logo viria a ser um dos maiores jazzman do século. A faixa que aqui apresento de Basie é Every Tub do álbum Basie Boogie.

Outro grande nome do Jazz, Duke Ellington, vem na seqüência, com grande sensibilidade e peso, Boo Dah é um estrondo suave e noturno que com solos metálicos compõem uma obra prima verdadeiramente moderna e norte-americana.

J. J. Johnson é representado aqui com a faixa Neo, com seu potente trombone é acompanhado por Harold Mabern no piano, Arthur Harper no baixo e Frank Gant na bateria. Neo é uma inegável evidência (Proof Positive) de que o jazz, a despeito das críticas acadêmicas, consolidou-se como um estilo autêntico e legítimo da música contemporânea.

Em seguida, uma faixa de um dos discos que considero um dos dez mais importantes da história do Jazz, a faixa é Dear Old Stokholm, o álbum é Round About Midnight e os interpretes; John Coltrane – sax tenor, Red Garland – piano, Paul Chambers – baixo e Philly Joe Jones na bateria, são liderados pelo mais sensível trompetista e bandleader da história do jazz , Miles Davis.

Já que Coltrane aparece na faixa anterior, nada melhor do que uma composição em que este aparece liderando seu próprio quarteto, em uma das suas fase mais profícuas e originais, Coltrane compõe Song of the Underground Railroad. Aqui a música é executada por Coltrane no sax tenor, McCoy Tyner no piano, Reggie Workman no baixo, Elvin Jones na bateria, e uma curiosidade todas as faixas deste álbum, The Complete Afrika/Brass Sessions, são conduzidas por Eric Dolphin.

Continuando nossa agradável viagem por esta estrada férrea e sinuosa jornada nos deparamos com outro mestre, Charles Mingus e uma pedrada atordoante, Boogie Stop Shuffle, com o peso e a exuberância única de Mingus que avança com ritmos inusitados. Infelizmente, não posso colocar o trabalho todo, mas fica aqui indicado outro disco fundamental do Jazz, Mingus Ah Hum, sua audição é obrigatória.

Agora quem se apresenta por meu intermédio é Sonny Rollins, um dos grandes saxofonistas dos 50-60. Um artista inquieto sempre recriando-se a si mesmo sem se diluir em suas recriações. Solos objetivos e swingados, espirituais e extrovertidos que apresentam um músico conseguindo equilibrar os mais antagônicos paradoxos. Acompanhado por músicos do porte de Max Roach na bateria, Tommy Flanagan no piano e Doug Watkins no baixo compreendemos que a música é uma linguagem capaz de estabelecer a comunicação e a sintonia entre almas de uma modo que possivelmente nenhuma outra linguagem pode fazer.

Finalizando, um dos nomes mais injustiçados da história do jazz, pouco reconhecido, morto jovem, talento precoce. Lee Morgan é um nome que rivalizaria com o próprio Miles davis, se este é agraciado com uma sensibilidade única, Lee Morgan é detentor de uma precisão inigualável. O brilho dos solos de trompete inconfundível foi apagado em 19 de fevereiro de 72, morto pela amante com um tiro no coração, morreu sobre o palco, sendo seu último sopro uma nota expelida pelo trompete. Aos 33 anos deixou um fértil legado que aos poucos estou conhecendo. Acompanhado por nomes como Wayne Shorter, sax tenor, Grant Green na guitarra e Herbie Hancock no piano criaram o álbum Search for the New Land, outra pérola recomendada a todos.

Bem, fico por aqui e espero que gostem da novidade, ficaria mais feliz ainda se deixassem suas opiniões e sugestões sobre um podcast, agradeço a visitae as sugestões.

Falou.

1. Count Basie – Every Tub
2. Duke Ellington - Boo Dah
3. J. J. Johnson – Neo (Proof Positive -
4. Miles Davis Quintet – Dear Old Sotckholm
5. John Coltrane Quartet – Song of the Underground Railroad
6. Charles Mingus – Boogie Stop Shuffle
7. Sonny Rollins – Strode Rode
8. Lee Morgan – Mr Kenyatta




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terça-feira, 28 de agosto de 2007

Baixio das Bestas – Cláudio Assis


O esgoto como consciência.

O naturalismo dos filmes de Cláudio Assis tem em seu distanciamento conseqüências das mais inócuas. Para mim, as únicas apreensões possíveis sobre seu filme, o Baixio das Bestas, não podem ser positivas, e se ele se pretende realista ou naturalista, o resultado foge da realidade “do mundo” perdendo-se no “seu próprio mundo” imundo e grotesco.

Um desfilar de personagens inumanas e sem liberdade alguma, condicionados pelo calor e pela pobreza, esta não só material, mas também espiritual – e consequentemente moral. Neste mundo Auxiliadora é um mero instrumento que se efetiva - e se aliena - não só na relação com seu avô e com os marginais que se reúnem em um cinema falido, mas inclusive com o próprio diretor que a utiliza como uma mera ferramenta para “auxiliar” na exposição de seu mundo, uma existência absurda e impossível que não se sustenta ao final - o próprio diretor não a mata para não perder seu “auxílio”. Ele a utiliza de forma abusada, seja para chocar com a nudez ingênua e sensual, seja para fazer um filme, por incrível que pareça, politicamente correto de “denúncia social”. Seus meios são chocantes e fortes, suas intenções são simplórias. Me parece que muitas feministas defendem o filme afirmando que este “retrata a realidade da mulher brasileira”. Creio que nem mesmo Cláudio Assis quis expressar isto.

O cinema, não pode ser a vida, está restrito em seus próprios termos a fazer recortes. Poucos cineastas conseguem apreender o mundo e a partir da vida realizar obras de arte universais, a estes, só podemos nos referir como gênios, o que não é o caso - e creio que Cláudio Assis nem almeja em sê-lo.

Deste modo, generalizar o sentido deste filme com a situação da mulher no país seria um exagero, ter a consciência de que pessoas são escravizadas com violência até maior do que a apresentada no filme é fundamental para que possa haver justiça, generalizar a questão seria ideologizar o problema e torna-lo uma mera ferramenta para “auxiliar” as disputas desta natureza. Neste caso, Auxiliadora seria triplamente explorada; sexualmente, esteticamente e politicamente.

Consequentemente, creio que o filme não consegue levar à tomada de consciência do problema, a própria estrutura naturalista e determinista do filme impossibilita qualquer ação efetiva – os plongées colocam os personagens ora como que em um microscópio, ora como em labirintos de cobaias. Não há propostas, nem ao menos estéticas, a beleza da fotografia é gratuita, assim como sua violência. Não há intenções, não há soluções, Auxiliadora esta “destinada” à prostituição como sua mãe o fora – creio que mãe de Auxiliadora seja a prostituta morta pelos “marginais do cinema”. Não há redenção alguma. E neste aspecto Cláudio Assis chega a ser extremamente corajoso, porém, reconhecer isto não é compartilhar de suas opiniões e concepções.

Quanto à interpretação do filme como um “filme-denúncia” tenho a impressão de que ele falha, justamente por esconder a tão almejada realidade. Ele caricatura o mundo dividindo-o simplesmente entre o bem e o mal – onde o mal reina soberano, inclusive. Seus personagens não possuem vida espiritual, são maus, com algumas exceções também caricaturais, não existe outra possibilidade. Em minha opinião, e nesta compartilho das concepções de Dostoievski, ninguém é tão mal que não possa ser capaz de cometer um ato de amor e de compaixão, ninguém é tão bom que não possa compactuar, inconscientemente, com as mais nefastas ações. Não há verdade neste filme.

Deste modo, se há uma falha terrível nos processos socializantes, capazes de dar lugar aos mais abomináveis monstros e aos mais apáticos santos, há falhas também na concepção do filme em conceber personagens caricaturais tão hediondos e sem vida. Estes seres não são humanos, não comportam a ambigüidade subjacente a qualquer ser moral. Assim, o filme é apenas uma máquina de causar sensações nauseantes destinadas a satisfazer um público masoquista e que sai do cinema chocado por saber que estas coisas acontecem.

Por fim, um aspecto interessante do filme é a gangue de marginais de classe média que se encontram no cinema falido e abandonado. É interessante notar que a leva de produções pernambucanas contemporâneas tem-se prestado a pensar o cinema, sobretudo o cinema brasileiro. No caso de Baixio das Bestas, a frase do líder da gangue sobre o cinema é muito clara....”o bom do cinema é que a gente pode fazer o que quiser”, ou seja, seres que se julgam acima da moral e prostituem o cinema utilizando-o como meio para seus objetivos. Porém, a pergunta que ficou em minha cabeça é se este plot é um modo inconsciente do próprio Cláudio Assis apresentar suas desculpas e justificar as suas verdades.

sábado, 4 de agosto de 2007

RETROSPECTIVA DO CINEMA PERNAMBUCANO

Sei que vocês não vão querer perder esta...

CINUSP “Paulo Emílio” apresenta

06 a 24 de agosto de 2007

RETROSPECTIVA DO CINEMA PERNAMBUCANO

1993-2007


Apresentação

A presente retrospectiva foi motivada por um artigo de Luciana Veras sobre a atual produção do cinema pernambucano, publicado em junho de 2006 na Revista de Cinema. O artigo ressalta o vigor dessa produção, que culminava no momento em que, pela primeira vez, dois longas-metragens eram produzidos simultaneamente: Baixio das Bestas de Cláudio Assis, e Deserto Feliz de Paulo Caldas. E ainda fazia um rico panorama dos diversos diretores e curtas-metragens produzidos nas últimas duas décadas no estado.

O cinema pernambucano surgiu durante o cinema mudo, na década de 1920, quando se tornou um importante pólo produtor de filmes, período que ficou conhecido como Ciclo do Recife. Pertencem a esse ciclo alguns clássicos da cinematografia brasileira, como Aitaré da Praia e A Filha do Advogado, nos quais destacou-se o nome de Ari Severo, que foi ator e diretor de muitos dos filmes. No entanto, esse ciclo de produção foi encerrado com o advento do cinema sonoro, e durante anos, o cinema pernambucano esteve no ostracismo.

O atual momento vivido pelo cinema de Pernambuco, ao qual essa retrospectiva se dedica, teve início nos primeiros anos da década de 80. Foi quando alunos do curso de comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) começaram a realizar curtas em Super-8, numa época em que Recife era carente de recursos cinematográficos profissionais, e estava totalmente marginalizada do eixo Rio-São Paulo de produção.

Foi por volta destes tempos que a professora do Depto. de Cinema, Rádio e TV da ECA-USP, Vânia Debs – apontada por Lírio Ferreira como uma das “responsáveis” pelo cinema pernambucano – foi convidada para dar um workshop de montagem em Recife. Ali, ela conheceu a futura geração de cineastas locais e montou em seguida os primeiros curtas em bitolas 16 e 35mm de Paulo Caldas. Em seguida, ela trabalhou nos curtas de Lírio Ferreira, Cláudio Assis e Marcelo Gomes, passando a ser uma das principais montadoras do cinema pernambucano, montando posteriormente os longas de ficção de Paulo e Lírio.

Paralelamente, já nos anos 90, Recife viveu uma espécie de boom cultural, do qual fazia parte essa geração de cinema, mas em especial na cena musical, que viu surgir o movimento do manguebeat nos instrumentos e vozes de Chico Science, Nação Zumbi, Mundo Livre S/A e Fred 04. Foi quando finalmente estourou o primeiro longa pernambucano desse ciclo, Baile Perfumado, dirigido por Paulo Caldas e Lírio Ferreira. O filme, sobre o mascate Abraão que registrou em cinema as únicas imagens em movimento de Lampião e Maria Bonita, teve sua trilha musical composta por Science, sintetizando passado histórico com o então presente cultural. A obra tomou de assalto o Festival de Brasília de 1997, de onde saiu como principal vencedor, impressionando o público e o júri com seu vigor

Depois de Baile Perfumado, outros cinco longas produzidos em Pernambuco foram lançados até hoje, e todos alcançaram grande sucesso em festivais, junto ao público e à crítica. Amarelo Manga, de Cláudio Assis e Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes são os filmes que acumularam o maior público nos cinemas brasileiros e ainda foram premiados em festivais no Brasil e no exterior.

Entretanto, entendemos que para fazer uma retrospectiva completa do cinema pernambucano contemporâneo é essencial que, além dos longas, também sejam exibidos uma parcela dos curtas mais significativos produzidos no mesmo período, para dar um panorama da base de formação desse cinema e desses cineastas. E ainda expandir essa percepção, exibindo curtas dirigidos por outros importantes colaboradores, como Adelina Pontual, e Hilton Lacerda, este roteirista de quatro dos cinco longas de ficção aqui exibidos. Além de uma amostra dos que há de mais recente na produção do estado, que revelaram nomes de uma nova geração, como Eric Laurence, Kleber Mendonça Filho e Cláudio Cavalcante, que em breve irá dirigir seu primeiro longa.

A possibilidade de assistir a esses filmes em conjunto pode ser muito enriquecedora, pois, apesar da pluralidade de gêneros, estilos e temáticas, parecem existir qualidades comuns a todos eles. A que mais chama a atenção, sem dúvida, é a vontade de formação de uma cinematografia própria, de seu estado e país, em que o resgate cultural, histórico e às tradições populares são buscados como elementos de construção de uma identidade.

É possível ainda que se revelem semelhanças temáticas e estéticas. Em o Baixio das Bestas as imagens do maracatu rural lembram as vistas no curta de Marcelo Gomes Maracatu, Maracatus e a abordagem realista da violência contra a mulher se coloca próxima à alegoria criada sobre o mesmo tema no premiado curta, Entre Paredes, de Eric Laurence. Percebemos ainda nos filmes a recorrência da cine-biografia, e o retrato do sertão, do agreste e da zona da mata, em contraste com a realidade excludente da metrópole recifense.

Esperamos assim oferecer ao público do CINUSP “Paulo Emílio” uma mostra relevante e diversificada, estimulando a difusão e a percepção da relevância do curta-metragem como bem cultural e de expressão, e do cinema como uma arte popular.

Victor A. Biagioni


LONGAS:

Baile Perfumado, Lírio Ferreira e Paulo Caldas (1997)

Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas, Paulo Caldas e Marcelo Luna (2000)

Amarelo Manga, Cláudio Assis (2003)

Cinemas, Aspirinas e Urubus, Marcelo Gomes (2005)

Árido Movie, Lírio Ferreira (2006)

Baixio das Bestas, Cláudio Assis (2007)


SESSÃO DE CURTAS I:

That’s a Lero-Lero, Lírio Ferreira e Amin Stepple (1994)

Soneto do Desmantelo Blue, Claudio Assis (1993)

Maracatu, Maracatus, Marcelo Gomes (1995)

Texas Hotel, Cláudio Assis (1997)

Conceição, Heitor Dhalia (1999)

Êxito de Rua, Cecília Araújo (2004)


SESSÃO DE CURTAS II:

Clandestina Felicidade, Beto Normal e Marcelo Gomes (1998)

Simião Martiniano – O Camelô do Cinema, Hilton Lacerda e Clara Angélica (1998)

O Pedido, Adelina Pontual (1999)

O Mundo é uma Cabeça, Bidu Queiróz e Cláudio Barroso (2005)

Rapsódia para um Homem Comum, Camilo Cavalcante (2005)


SESSÃO DE CURTAS III:

O Homem da Mata, Antonio Luiz Carrilho (2005)

A História da Eternidade, Camilo Cavalcanti (2001)

Entre Paredes, Eric Laurence (2005)

Vinil Verde, Kleber Mendonça Filho (2004)

Eletrodomésticas, Kleber Mendonça Filho(2005)


PROGRAMAÇÃO:


1ª Semana

16h

19h

06/08 07/08 08/08 09/08 10/08

Amarelo Manga

Baile Perfumado

Baile Perfumado

Amarelo Manga

Sessão de Curtas I

Baile Perfumado

Amarelo Manga

Sessão de Curtas I

Baile Perfumado

Amarelo Manga





2ª Semana

16h

19h

13/08 14/08 15/08 16/08 17/08

Cinema, Aspirinas e Urubus

Rap do Pequeno Príncipe contra as almas sebosas

Rap do Pequeno Príncipe contra as almas sebosas

Cinema, Aspirinas e Urubus

Sessão de Curtas II

Rap do Pequeno Príncipe contra as almas sebosas

Cinema, Aspirinas e Urubus

Sessão de Curtas II

Rap do Pequeno Príncipe contra as almas sebosas

Cinema, Aspirinas e Urubus





3ª Semana

20/08 21/08 22/08 23/08 24/08

16h

19h

Baixio das Bestas

Árido Movie

Árido Movie

Baixio das Bestas

Sessão de Curtas III

Árido Movie

Baixio das Bestas

Sessão de Curtas III

Árido Movie

Baixio das Bestas


SINOPSES – LONGAS

AMARELO MANGA

Brasil, 2002, 35mm, 100 min

Direção: Cláudio Assis

Elenco: Matheus Nacthergaele, Jonas Torres, Dira Paes, Chico Diaz e Leona Cavalli.

Sinopse

Guiados pela paixão, os personagens desse filme vão penetrando num universo feito de armadilhas e vinganças, de desejos irrealizáveis, da busca incessante da felicidade. O universo aqui é da vida-satélite e dos tipos que giram em torno de órbitas próprias, colorindo a vida de um amarelo hepático e pulsante. Não o amarelo do ouro, dos brilhos e das riquezas, mas o amarelo do embaçamento do dia-a-dia, e do envelhecimento das coisas postas. Uma amarelo-manga, farto.

* Melhor Filme – 35º Festival de Brasília


ÁRIDO MOVIE

Brasil, 2006, 35mm, 115 min

Direção: Lírio Ferreira

Elenco: Guilherme Weber, Giulia Gam, Selton Mello, Gustavo Falcão, Mariana Lima, Matheus Nacthergaele, José Dumont, Renata Sorrah e Paulo César Pereio

Sinopse

Jonas é o repórter do tempo de uma grande rede de TV, que mora em São Paulo mas está rumo à sua cidade-natal, localizada no interior do nordeste. O motivo é a morte de seu pai, com quem teve pouquíssimo contato e que foi assassinado inesperadamente. Jonas enfrenta problemas para chegar à cidade, até que recebe carona de Soledad, uma videomaker que está fazendo um documentário sobre a água no sertão. Ao chegar ele encontra uma parte da família a qual não conhecia até então, que lhe cobra que se vingue da morte do pai.

* Melhor Filme – Cine PE Festival de Recife


BAILE PERFUMADO

Brasil, 1997, 35mm, 93 min

Direção: Paulo Caldas e Lírio Ferreira

Elenco: Duda Mamberti, Luiz Carlos Vasconcelos, Aramis Trindade, Chico Diaz, Jofre Soares, Cláudio Mamberti e Giovana Gold.

Sinopse
Amigo íntimo do Padre Cícero, o mascate libanês Benjamin Abrahão decide filmar Lampião e todo seu bando, pois acredita que este filme o deixará muito rico. Após alguns contatos iniciais ele conversa diretamente com o famoso cangaceiro e expõe sua idéia, mas os sonhos do mascate são prejudicados pela ditadura do Estado Novo.

* Melhor Filme – 30º Festival de Brasília


BAIXIO DAS BESTAS

Brasil, 2006, 35mm, 80 min

Direção: Cláudio Assis

Elenco: Mariah Teixeira, Fernando Teixeira, Caio Blat, Matheus Nachtergaele, Dira Paes, Marcélia Cartaxo e Hermila Guedes.

Baixio das Bestas é o lugar símbolo das confluências humanas. Uma tosca idéia de possibilidades. Um pobre conceito de riqueza. Nesse cenário se passa a história de Auxiliadora, uma menina de 13 anos explorada pelo velho avô, seu Heitor, um moralista ambíguo, que em tudo vê falta de autoridade, mas ganha dinheiro explorando sua neta. Por sua vez, Cícero, um jovem de uma conhecida família local, assiste ao drama de Auxiliadora e cria por ela uma paixão insustentável. Do enfrentamento de seu Heitor e Cícero será decidido o destino de Auxiliadora.

* Melhor Filme – 39º Festival de Brasília


CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS

Brasil, 2005, 35mm, 99 min

Direção: Marcelo Gomes

Com: Peter Ketnath, João Miguel e Hermila Guedes

Sinopse

Em 1942, no meio do sertão nordestino, dois homens vindos de mundos diferentes se encontram. Um deles é Johann, alemão fugido da 2ª Guerra Mundial, que dirige um caminhão e vende aspirinas pelo interior do país. O outro é Ranulpho, um homem simples que sempre viveu no sertão e que, após ganhar uma carona de Johann, passa a trabalhar para ele como ajudante. Viajando de povoado em povoado, a dupla exibe filmes promocionais sobre o remédio "milagroso" para pessoas que jamais tiveram a oportunidade de ir ao cinema. Aos poucos surge entre eles uma forte amizade.

* Seleção Oficial Un Certain Regard – Festival de Cannes


RAP DO PEQUENO PRÍNCIPE CONTRA AS ALMAS SEBOSAS

Brasil, 2000, 35mm, 75 min

Direção: Paulo Caldas e Marcelo Luna

Documentário

Sinopse

Dois jovens, um justiceiro e um músico, vivem num universo de violência. Helinho, 21 anos, conhecido como "Pequeno Príncipe", é acusado de matar 65 bandidos no município de Camaragibe, periferia do Grande Recife. Garnizé, 26 anos, componente da banda de rap Faces do Subúrbio, militante político e líder comunitário em Camaragibe, usa a cultura para enfrentar a difícil sobrevivência na periferia. Os dois são os opostos e ao mesmo tempo iguais na condição de filhos de uma guerra social silenciosa, que é travada diariamente nos subúrbios das grandes cidades brasileiras. Cada um reage a sua maneira.


SESSÃO DE CURTAS I – 84 minutos


THAT’S A LERO LERO
Brasil, 1995,16mm, 16 min

Direção: Lírio Ferreira e Amin Stepple.

Elenco: Bruno Garcia e Aramis Trindade.

Sinopse: Em julho de 1942, o cineasta Orson Welles desembarca no Recife para filmar a cidade e fazer uma grande festa com os intelectuais locais.


SONETO DO DESMANTELO BLUE
Brasil, 1993, 35mm, 8 min

Direção: Cláudio Assis.

Elenco: Henrique Amaral, Maria Vasconcelos, Virgínia Cavendish.

Sinopse: Fragmentos da vida e obra do poeta pernambucano Carlos Pena Filho.


MARACATU, MARACATUS
Brasil, 1995, 35mm, 14 min

Direção: Marcelo Gomes.

Sinopse: As diferenças culturais entre as várias gerações de integrantes do Maracatu rural, ritual afro-indígena que tem suas origens nos engenhos de açúcar de Pernambuco.


TEXAS HOTEL

Brasil, 1999, 35mm,14 min

Direção: Cláudio Assis.

Elenco: Jaison Wallace.

Sinopse: O que acontece enquanto a vaca vai e vem.


CONCEIÇÃO

Brasil, 1999, 35mm, 17 min

Direção: Heitor Dhalia.

Co-Direção: Renato Ciasca.

Elenco: Aramis Trindade, Claudio Assis, Magdale Alves, Mônica Pantoja.

Sinopse: Duas prostitutas se apaixonam por vestidos de noiva numa vitrine e pedem que dois bandidos os roubem.


ÊXITO DE RUA

Brasil, 2004, 35mm, 15 min

Direção: Cecília Araújo.

Sinopse: Movimento, vida, cinema, revolução, música, hip-hop, grafitagem, break, MCs, DJs, VJs, conscientização política, transformação social, desobediência civil: Êxito D´ Rua.


SESSÃO DE CURTAS II – 85 minutos

CLANDESTINA FELICIDADE
Brasil, 1998, 35mm, 14 min
Direção: Beto Normal e Marcelo Gomes.

Sinopse: Fragmentos da infância da escritora Clarice Lispector, em Recife, 1929. Sua paixão pela leitura, seu olhar curioso e perplexo, a descoberta do mundo.


SIMIÃO MARTINIANO, O CAMELÔ DO CINEMA

Brasil, 1998, 35mm,14 min

Direção: Hilton Lacerda, Clara Angélica.

Sinopse: A história de Simião Martiniano, homem que divide seu tempo entre os ofícios de camelô e cineasta.


O PEDIDO

Brasil, 1999, 35mm, 15 min

Direção: Adelina Pontual.

Elenco: Geninha da Rosa Borges, Hermylla Guedes, Jones Melo, Alcir Lacerda.

Sinopse: Num velho casarão, uma velha senhora e sua jovem afilhada preparam-se para receber uma misteriosa visita que realizará um antigo desejo.


O MUNDO É UMA CABEÇA

Brasil, 2005, 35mm, 17 min

Direção: Bidu Queiroz, Cláudio Barroso.

Sinopse: O Manguebeat é um movimento que eclodiu no início dos anos 90 em Pernambuco. E o filme mostra essa história e a trajetória do seu principal protagonista: Chico Science.


RAPSÓDIA PARA UM HOMEM COMUM

Brasil, 2005, 35mm, 25 min

Direção: Camilo Cavalcante.

Elenco: Cláudio Jaborandi, Jones Melo, Magdale Alves.

Sinopse: Epaminondas é um funcionário público classe média baixa no início da década de 70. Um homem comum, pai de família, que tem o dia-a-dia cercado por compromissos burocráticos e já não agüenta mais a rotina banal a que está submetido.


SESSÃO DE CURTAS III – 77 minutos

O HOMEM DA MATA

Brasil, 2004, 16mm, 19 min

Direção: Antonio Luiz Carrilho.

Elenco: José Borba, Simião Martiniano, Jones Melo, Lourival Batista, Hermylla Guedes, Soraia, Nerisvaldo, Jonathans Nino, Gilvan, Trio Sabugo de Milho, Diogo Almeida.

Sinopse: José Borba da Silva, ator, canavieiro, cantor, pai-de-santo e artista da cultura popular, interpreta Jack, o vingador justiceiro, super-herói defensor dos trabalhadores da Zona da Mata Atlântica do Nordeste do Brasil.


A HISTÓRIA DA ETERNIDADE

Brasil, 2003, 35mm, 10 min

Direção: Camilo Cavalcante.

Elenco: Adriana Maciel, Charles Franklin, Cosme "Prezado" Soares, Geraldo Pinho, Iracema Almeida, João Ferreira, Júlio Verçosa, Marco Camaroti, Nerisvaldo Alves, Nina Militão, Roberta Alves, Seba Alves, Valdir Nunes, Vanessa Suedy.

Sinopse: A História da Eternidade é um falso plano-sequência que pretende conduzir o espectador a uma viagem dentro dos instintos humanos, através de uma linguagem poética e metafórica.


ENTRE PAREDES

Brasil, 2004, 35mm, 15 min

Direção: Eric Laurence

Elenco: Hermyla Guedes, Servílio de Hollanda.

Sinopse: Possessividade, desejo, paranóia e culpa são sentimentos obscuros numa relação amorosa, onde o medo da perda e a desconfiança podem destruir a vida ou levar à loucura.


O VINIL VERDE

Brasil, 2004, 35mm, 13 min

Direção: Kleber Mendonça Filho.

Elenco: Gabriela Souza, Ivan Soares, Verônica Alves.

Sinopse: Mãe dá a Filha uma caixa cheia de velhos disquinhos coloridos. A menina pode ouvi-los, exceto o vinil verde.


ELETRODOMÉSTICAS

Brasil, 2005, 35mm, 22 min

Direção: Kleber Mendonça Filho

Elenco: Gabriela Souza, Magdale Alves, Pedro Bandeira.

Sinopse: Classe média, anos 90, 220 Volts.


Universidade de São Paulo

Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária

CINUSP “Paulo Emílio”

Rua do Anfiteatro, 181 – Colméia – Favo 37(Adm.) Favo 4 (projeção)

São Paulo – SP 05508-900

www.usp.br/cinusp - cinusp@edu.usp.br

fone: 3091-3540/3152 – fone/fax: 3091-3364

Entrada Franca – 100 lugares

Som Dolby Stéreo


terça-feira, 10 de julho de 2007

O cinema morreu, diz o cineasta Peter Greenaway

MÁRCIO FERRARI,
editor de UOL Cinema


Raoni Maddalena/Divulgação
Peter Greenaway em São Paulo

* LeiaBLOG DO VIDEOBRASIL

Para o multiartista britânico Peter Greenaway, o cinema morreu -- e já faz algum tempo. Segundo ele, o que Hollywood faz hoje é produzir em série histórias previsíveis. O cinema realmente importante para o público deixou de existir. "Os fimes narrativos já não despertam interesse", diz Greenaway. "Na Holanda, onde eu moro, as pessoas vão em média ao cinema uma vez a cada dois anos."

Greenaway, ironicamente, está no Brasil para, entre outras coisas, viabilizar a produção de um filme que ele pretende rodar em São Paulo. Além disso, veio acertar detalhes da performance que vai comandar como VJ para o festival de arte eletrônica Videobrasil, em setembro. Será um desdobramento de um projeto que o mobiliza há mais de dez anos e para o qual ele realizou, entre 2002 e 2003, um filme de sete horas de duração. Tudo gira em torno de 92 malas cheias de vestígios de uma história que atravessa décadas. As malas teriam sido deixadas por um certo Tulse Luper, escritor desaparecido em 1989.

O personagem vem sendo tratado como um mistério, mas Greenaway não faz segredo sobre sua identidade. "Sou eu", diz ele. "Eu nasci em 1942, três anos antes da bomba de Hiroshima. Tenho mais ou menos a idade de John Lennon e Mick Jagger. Esse foi o início de uma época que terminou em 1989, com a queda do Muro de Berlim." Greenaway descreve esse período como uma fase de grande otimismo, principalmente em relação à tecnologia. É uma época que ele também chama de "era do urânio", em
referência ao papel-chave exercido ao longo desse tempo pela energia nuclear.

Greenaway localiza o início da morte do cinema um pouco antes do encerramento dessa fase: o lançamento, em 1983, do controle remoto sem fio que operava tanto a televisão quanto o videocassete. O zapping trouxe para os lares a possibilidade de interação e a passividade do cinema caiu em desgraça. "Não há mais por que juntar um monte de gente numa sala escura em que só há um lugar bom para ver o filme, a poltrona equidistante das caixas de som que permite ver a tela bem no centro", diz Greenaway, que vem operando com vídeo de alta definição há vários anos. "Já existe tecnologia para envolver o espectador em som e imagem por todos os lados e fazer dele um agente da ação."

O ambiente virtual e tridimensional do site Second Life é a prova de que o futuro já chegou e que as crianças e jovens de hoje em dia já vivem numa época pós-cinematográfica. Greenaway prentende explorar essas possibilidades em sua performance no Videobrasil, na qual vai mixar, editar e reeditar imagens de seus filmes da série Tulse Luper com música ao vivo, num "live act" que, ele espera, levará o público a dançar. Para isso ele usará equipamentos com touch screen, pelos quais é possível projetar e misturar imagens em grande escala com o toque dos dedos sobre uma tela de monitor.

Greenaway se tornou conhecido mundialmente pelos filmes que realizou em suporte e formato mais ou menos tradicionais entre as décadas de 80 e 90, como "O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante" e "O Livro de Cabeceira". Esses títulos alimentaram no autor uma frustração com os limites do cinema que o levou às experimentações dos últimos anos.

Perguntado se o novo cinema "ao vivo" que ele persegue com tecnologia eletrônica se aproxima do teatro, ele diz que é a pintura sua fonte de inspiração. "Eu acredito que os pintores Caravaggio, Velásquez e Rembrandt foram os inventores do cinema, três séculos antes dos irmãos Lumière", diz Greenaway. "Está ali a dramaticidade e o jogo de luz e sombra que fizeram a grandeza do cinema narrativo nos anos 30 e 40. E é esse aspecto sensorial que o espectador absorve, muito mais do que a estrutura romanesca."

Rembrandt é o inspirador do próximo filme de Greenaway, cujo título é o mesmo da obra mais célebre do pintor holandês, "A Ronda Noturna". O cineasta quis levar para as imagens em movimento sua convivência intensa com o quadro, que está exposto do outro lado da rua onde ele mora em Amsterdã. "A Ronda Noturna" estréia no Festival de Veneza, no fim de agosto.

Sobre o filme que pretende realizar em São Paulo, ele adianta que tratará de erotismo ou pornografia e que escolheu o Brasil para filmá-lo porque se sente fascinado pelo que qualifica de tensão entre a cultura católica e a liberdade de costumes.