O fogo é algo que me fascina profundamente, não é a toa que a descoberta, pelo homem, de como fazê-lo foi uma revolução na história humana e possibilitou todo um desenvolvimento das forças produtivas. É um marco definitivo na relação homem-natureza. Porém, hoje, num mundo que cada vez mais se desencanta e se racionaliza, até mesmo este elemento essencial (ao lado da água, do ar e da terra) perdeu um caráter simbólico, digamos, mais mí(s)tico.
Os gregos, por exemplo, considerava o fogo como algo que pertenceria exclusivamente aos deuses, Prometeu, quando tentou traze-lo aos homens foi duramente castigado, sendo condenado ao acorrentamento no alto do monte Cáucaso e a ter seu fígado dilacerado eternamente por uma águia. Na mitologia judaico-cristã o fogo é considerado um elemento de expiação, de purificação... o inferno cristão é constantemente consumido em chamas infernais e talvez seja este um dos motivos de a fogueira ser utilizada como meio, por excelência, de punição à heresia durante a Inquisição. Ainda, em várias culturas não industrializadas, como na Europa medieval, aqueles que eram considerados pagãos executavam rituais, como os de fertilidade, onde o fogo era um elemento ritualístico central, assim como em sociedades indígenas em toda a América. Na Índia os rituais de cremação dos mortos também são um aspecto essencial de sua cultura. Enfim, em qualquer sociedade - tanto no espaço, como no tempo – o fogo ocupa um lugar central, tanto na esfera da produção material como na simbólica.
Pensando nisso tudo, um dia – ou melhor, numa madrugada -, ao acender um cigarro em plena escuridão, me deparei com a beleza da chama de um palito de fósforo. As formas das chamas me arrebataram para um sentimento anímico e pude presenciar a conjuração de pequenos seres etéreos de fogo que pareciam agonizar e dançar no seu pequeno momento de existência. Ae pensei nas salamandras, criaturas do imaginário pagão, que habitavam as chamas. Acho isso tudo interessante, pois sempre penso no processo de racionalização cada vez mais acentuado de nossa época e de como a beleza e a imaginação estão em crise. Particularmente, eu não gosto muito disso.
Foi pensando nestas coisas que eu fiz essa pequena brincadeira em vídeo, um pequeno exercício, mas que, embora tenha alguns problemas técnicos, me agradou bastante. Vejam as salamandras.
Dannyeu.
Um comentário:
ler todo o blog, muito bom
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